"Não sei se caminho em parte incerta
Se o tempo é este em que vegeto
Se o que vivo é agora ou longe ausente
Se sim, se não, se dor somente.
Aquela porta que no fim já foi aberta
É agora sinónimo de ti presente
Longe vai o tempo e a lembrança
Perto da presença que te invoca
A lua que é a mesma e me provoca
Esguia escorre em demasia
Desfalece, agoniza e ressuscita
Assim se completa a aliança
Do tremor da noite se faz dia
Depois disto, amarfanhou o papel e deitou-o em forma de bola para o caixote do lixo que se encontrava no canto.
Pediu outra caneca e bebeu-a até meio. Aos poucos ia aliviando, pela sua cara alcoolizada passava o sorriso da certeza.
Estava decidido, a sua colheita estava feita. A sua vida ia mudar.
E, para não perder tempo, começaria já. Levantou-se e decidido, dirigiu-se para a saída do bar. Adornou para a esquerda, tropeçou na cadeira, estatelou-se contra a mesa e sentiu a caneca atingir-lhe a nuca, no preciso instante que antecedeu o momento em que os seus queixos batiam vigorosamente no soalho da esplanada.
Acordou passadas duas horas numa cama do hospital com um penso a cobrir-lhe parte da cara.
Nada que pudesse afectar-lhe o ânimo. Hoje seria o primeiro dia do resto da sua vida."
Excerto do que há-de vir
2 comentários:
Belas e mágicas as suas palavras.
Só se levanta quem cai.
Um trambolhão pode ser um bom começo de mudança.
Um abraço,
mário
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