Da janela do quarto, do lado direito da cabeceira, conseguia divisar o sol do início do dia. Um imponente sol de maio, sob um céu azul pontualmente salpicado por pequenas nuvens. Era este o quadro exposto na janela por onde entrava o mundo, que não conseguia ter vontade para apreciar.
O movimento das ruas, visível desde onde se encontrava, era o normal considerando uma quarta-feira de manhã. A vida lá fora continuava normalmente, as pessoas estavam, como sempre, alheadas das desgraças dos outros. Somos mais atentos à normalidade quando a nossa já acabou.
Entramos neste mundo quando outros cá estão, saímos deste mundo e outros cá ficam. Ninguém se apercebe que chegámos e tudo continua o seu normal curso quando partimos. Se nada mudou quando aparecemos, tudo permanecerá inalterado assim que partirmos. Triste conclusão a de um condenado, triste fado, pior sorte.
Excerto do que há-de vir. Capítulo I
3 comentários:
E se nada fizermos,nada muda,mas também o que andariemos aqui a fazer?
Um abraço,
mário
O final do texto recorda-me a paixão de cristo.Ele pediu, mas o Pai não quis.Identifico-me com essas palavras, mas quando não há vento tenho que remar.
Armando
Apetece-me apenas transcrever:
"Somos mais atentos à normalidade quando a nossa já acabou."
Um abraço
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