"De
uma prateleira para outra, pegando na garrafa, girando-a, lendo o rótulo com
calma, assim Filipa se entretinha, à espera do voo que a levasse para Frankfurt
e daí, com mais uma escala em Singapura, para Sidney. Sim, a Austrália era o
seu destino.
Os
rótulos das garrafas vendem esperanças, o vinho, pelo menos para quem dele sabe
pouco, entra primeiro pelos olhos que pela boca.
Era
este mundo que Filipa queria desvendar. Era este o seu novo Foco. Entrar pela
vista para chegar ao coração. E, aí chegado, tornar-se uma referência.
Viajava
para um novo continente, não como os degredados de antigamente. Pelo menos, não
no sentido de estar a cumprir uma pena decretada por um qualquer magistrado.
Mas não lhe era de todo indiferente o facto de estar a fugir de um emaranhado
em que se tinha envolvido. Fugindo de tudo encontrar-se-ia a si própria. Esta
era a sua esperança. Era este o motivo que a impulsionava e que sem hesitações
a levou a aceitar de forma rápida e decidida o convite feito pela mãe.
Para
trás deixava tudo. Todos os que tinha conhecido e com quem tinha convivido
desde o nascimento. Para trás deixava nada."
Excerto do que há-de vir.
Armando Sena
4 comentários:
Uma fotografia linda a ilustrar um excelente texto.
Um abraço,
mário
Por vezes, fugindo de tudo encontramo-nos a nós próprios. Outras vezes...não.
Gostei muito deste excerto!
Beijinhos
Manuela
É fácil fugir de um lugar. Haverá forma, de fugir da nossa memória?
Onde nos conduz a fuga? Dou comigo a pensar muitas vezes.
Gosto deste excerto, Armando. É um pouco de todos nós. Quem não encetou já uma fuga para deixar tudo para trás?
Beijinho
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