Nem a lua, nem o sol, nem a praia
Nem um dia de agosto como outros
Um caminho, um carreiro, entre cardos
A sofreguidão da novidade, a partilha
A incredulidade, o espanto, a felicidade
Nada nos tinha preparado para a eternidade
Um olhar sobre as palavras
Talvez onde o ontem terminou
ou onde se refugia o pôr do sol
Sabes bem que não sou da noite
Tampouco vibro com o amanhecer
embora a manhã me revigore
O dia, esse desgasta-me
Os dias, os que me restam, falam-me de outros dias
Desses que terminavam voltados para o ocaso
Pois acaso poderia haver outros?
Os meus dias são pôr-do-sol
Foram momentos, horas
Dias sem conta
Sem conta porque incontável é a alegria
Bloqueou um dia porque sim
No sussurro dos pardais se escondeu
Pelos labirintos da existência enveredou
Não porque acabasse a chama
Ou se extinguisse o alento
Apenas porque sim, porque bizarro é o destino
Porque aceitamos o desígnio
Mas de momentos se fazem anos
Nada interrompe o que é etéreo
Não se muda o curso do desejo
E décadas se somam ao primeiro alento
Persiste, resiste, é eterno
E dizem que não existe infinito!