sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Horas


Falam-me de um sol a ocidente
Trazendo prenúncios de ocaso
Encerrando mais um eterno capítulo
levando consigo o cansaço
as agruras de um dia infinito
e desaguando numa linha de horizonte
onde toda a lembrança é enterrada

Recordo um sol a oriente
Onde todo o anseio era esperança
Presságio contagiante de alegria
Vontade de viver toda uma vida
Num dia,
nas horas que preenchem a eternidade

Entre um e outro um interregno
o luar prateado da vontade

ou a penumbra face da saudade

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A varinha de condão


Se um dia possuísse o condão
Dos momentos o sumo abarcar
Do tempo eliminar a opressão
Deste encarceramento rotineiro
As amarras libertar
Levantar a carga que comprime
E toda a angústia aliviar

Seria a leveza da vida
O sentimento
O momento que procuras
O alento
De que sempre um por do sol
Ou um céu cinzento
São prenúncio de alegria divinal

Afinal sendo tudo tão efémero
Resumindo-se à razão, à harmonia:

Haja calma para esperar um bom final!

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Demanda




Um palmo nos separa da euforia
A um dedo de distância a ilusão
Perdidos no labirinto da inconstância
Errando na perfídia cintilante
De um dia ser pedaço do almejado

Peça de um conjunto sonhado
Atalho para a liberdade eterna
Aguarela de um quadro imaginado
Motivo da foto perseguida
Cena da peça agendada
Meta da corrida inacabada
Sobremesa do banquete iniciado

Valerá por certo a vontade
Pois incerta é a própria vida
E eterna será sempre a procura

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Folha



Sou folha de árvore sentimento
Em verde, primavera de esperança
Madura venço o fulgor do verão
Refresco a vontade mais afoita
Escondo o rubor da ousadia

Mesmo a tender para o outono
Estimulo o sentimento, a Poesia
Desperto em tons acastanhados
As cores mistificadas do encanto

Mas, mirro, seco e um dia
À mercê da intempérie perco o pé
Envolta numa dança chego ao fim
Descendo para o meu leito final

Encerro a minha história sazonal
Valeu a pena ser sonho e vida breve
Cumprindo o meu desígnio natural

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Espelho


Não há espelho que reflita a sensatez
A dúvida ou a vontade do saber
O crer, a dor ou a saudade
A luz que em ti nasce ao entardecer

De dentro da vontade nascem rios
Levam em suas águas a lembrança
Daquilo que nasceu por necessário
E mirrou o chão que percorreu
Desaguando
sem passar por nenhum leito

Mas árido era o campo onde corria
Secava todo o sonho que teimava
Ser fonte de um qualquer
sopro de vontade

Se há um espelho que não minta
O mundo refletido nos teus olhos

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Um Traço


Um traço
Uma linha de tempo
Uma silhueta reflexo do sonho
O sopro de um sentimento retraído

O fôlego
Os pingos de chuva
Silvos do vento nos pinheiros
Sinfonia de acordes que perduram
Ao ritmo da vontade incontrolável

O tudo
O tempo
O nada mais interessa


E tudo condensado num sorriso

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Pausa



Tivesse eu o poder naquele momento
de privar da terra o movimento
guardar só para mim eternamente
o efémero momento de magia
Transformá-lo em doce alegoria
de posse de um bem que é intangível

Gravar essa imagem recortada
de tuas finas curvas sensuais
das mil e uma cores que só tu tens
que para lá dos montes são banais
e deste lado moldam ideais
Elas, a origem da saudade

Pudesse eu parar este momento
Tirar daqui todo o alento
E mergulhar no ventre da vontade


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Infinito


Coubesse todo o mundo nos teus olhos
Esses, onde vive algum do meu
Donde parte a nobreza e a candura
A alegria e a sincera honestidade

A beleza que não cabe nas palavras
O sentir que sempre foi algo teu
Que primeiro está alguém porque merece
E nem tudo é premente, porque é

Antes, estará a harmonia,
tudo tem um porquê de racional!
Afinal sempre haverá prioridades
A primeira será a alegria
As outras, por impérios de magia
A seu tempo, terão oportunidade

Seria assim tudo sempre simples

Coubesse todo o mundo nos teus olhos.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Simetrias




Sentei-me à janela do tempo
Não me lembro de quando me encontrei
Se no limite do ocaso
Num silvo do medo
Num pingo de chuva fora de tempo
Na fresca gota de orvalho
Ou apenas pela rua divagando

Abrigado pela sombra de um vento desmedido
Entre os secos ramos da solidão perdido
Envolto na penumbra de um destino inacabado

Fechei de novo a portada
Regressei a um tempo que controlo
Na folha despejei mais uns suspiros
Do copo sorvi um novo fôlego
E do calor do fogo um novo alento

Lá fora cai a chuva de outono
Batida pelo vento que alimenta
cá dentro o fogo do encanto

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Sorriso





Não me desvendes o sentir
Sou sopro de um vento que sonhaste
Liberto corri por entre os lábios
Numa noite em que o sonho transbordou
E o reflexo incontrolável da alma
se espelhou

Não busques a chave
que decifra o enigma
Desígnio de um sonho infundado
Pretenso desejo exagerado
remédio da ventura
ou sentimento imaculado

Não busques, para quê?

Tudo isso é ofuscado pelo traço
Subtil, matreiro, maroto, sensual
O único sentido do sentir
Um Sorriso nos lábios espelhado

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

...um dia


um dia sem querer hei de escrever
as páginas soltas de uma vida

das minhas letras sairá a viva alma
o teu rosto em forma de um verso

um sorriso será a pontuação
das palavras que juntas o compõem
o teu jeito terá esse condão,
libertar a forma e o sentido

um dia terei essa ousadia
de pegar numa folha vazia
e enchê-la de todo o sentimento

não sei se o feito é de relevo
se não foi já mil vezes repetido
ou se daí virá algum remédio

Mas,
um dia sem querer hei de escrever
tudo aquilo que sempre um dia quis

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Dúvida



Sou restolho que o sol mirrou
Poeira que o vento endoideceu
Horas que um dia concedeu
Tempo que a luz alimentou
E o desejo apenas permitiu

Sou conclusões de fim de verão
Ânsia da frescura prometida
Colheita há muito esperada
Fim do estio programado
Promessa de um novo ciclo desejado

Será que serei o que seria
Se a vida só tivesse por um dia
E tudo não seguisse o mesmo mote?

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Toque


Não busco na sombra do destino
O rasto de um sopro que eras tu
O aroma do teu corpo deslizante
O sabor de um momento que foi nosso

Um ventre onde ancorava a minha barca
O aconchego da memória inoportuna
Dos lábios onde cabia o desejo

O som de cítaras vibrando
Num melódico trecho musical
Interpretado por solista virtuoso
Que mesmo num desempenho divinal
Sucumbia ao prazer de imaginar
O solo mais pungente conhecido
O murmurado som da tua voz

Busco num cenário conhecido
Que me leva a um estado divinal
E tudo que se diga é desigual
Ao toque das tuas mãos nas minhas

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Miragem


À luz da lua que brilhou no teu deserto
Que iluminava um oásis que era meu
E verde como a esperança alimentava
Um desejo que vendia esperança

Dispo-me de toda a amargura
Da seara que cresceu em peito aberto
Do centeio que a ceifa prometeu
E de tudo o que um dia era meu

Mas as cores também vacilam
A luz, mesmo a mais forte desvanece
Difusa torna-te distante
E o oásis que era o fim do teu caminho
Funde-se na ilusão de um destino
Pura miragem, desatino

E aí te mantém, perdido, errante 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Sinais dos tempos





Sempre sabe a pouco a virtude
Opulenta que pareça e desabrida
Mesmo que em bandeja oferecida

Mansa dádiva em mão estendida
Sempre será mais vistosa e pretendida
A lábia e trôpega falácia

A que floresce em meninos de carreira
Exorta sempre a verborreia
Resulta como nada em estrumeira
E descamba no final em implosão

Nada a poderia sustentar
Oca, vaga, de lascar
Alimenta simplesmente a ilusão
Do ciclo da burrice propagar

Mas quando de madura cai
É sempre em vão

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Ocaso





Em busca do efémero fim de tarde, corro
Para trás o dia inteiro, deixo
O alento da luz que se acaba, busco
A chama do desejo em ti, persigo

No aconchego da noite me oculto
No eterno da madrugada mergulho
No despontar da aurora desaguo
De um limbo eterno desponto

De volta a um ser desconhecido
Emanado da razão
Liberto do espírito sonhador
Subjugado ao prazer do real
 
No jazigo temporário permaneço
Até ao ocaso de um sol que há-de ser meu

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Domínio da Paciência





Não sei se um dia fui lembrança
Do tempo um rasto de vivência
Se da Lua roubei a eloquência
A emprestei a algo que esqueci
Dos dias retirei as horas mortas
Pendurei-as no pedestal da paciência
E à noite não consegui ressuscitá-las
Colecionei então apenas horas vivas
Longas, iníquas, infindáveis

Acordei

Não se dorme à eterna luz do dia
Era mais que tempo do resgate
Da lembrança retirei a escada
Perdi o respeito à paciência
Subi os degraus do seu altar
E repus a ordem do destino

É agora tempo de repousar.