segunda-feira, 30 de abril de 2012

Tentativa




Não pertenço aqui nem a parte incerta
Sou cidadão ausente e intemporal

Deslizo sobre o éter e desaguo
num leito onde só cabem esperanças

Todo o infinito que te enjeita
É curto e limita-te a ousadia

Mas.. ah! sempre um mas!
É bom saber, ter a certeza
Nem tudo é sujeito à tirania
de escolhas que prometem realeza.

Não, de ti, decides tu. Ah Ironia.

sábado, 28 de abril de 2012

Lembranças do Gin Tónico



"Era um fim de tarde, o momento de lazer mais apreciado por Tiago.
Quando o tempo lhe dava essa oportunidade, sentava-se na varanda, pegava no copo de gin tónico e languidamente desfrutava da paisagem sobre o Tâmega, ao fundo.
Toda a paisagem era de um verde alucinante. O preço a pagar, era a constante humidade durante todo o ano.
Ele dizia de forma também irónica, que a humidade era a sua vida, o seu prazer e a sua subsistência.
Não gostava do clima seco. Nem de dias secos. Assim, o gin era sempre um bom companheiro. Às vezes pregava-lhe umas partidas, mas o bom das ressacas é que sempre têm um fim.
E, o gin era leal, nada que ele conseguisse encontrar nas suas outras companhias.
O olhar de Tiago, estendia-se longo, distante, opaco e melancólico. Quem o conhecia, sabia o significado deste olhar vago, do que o provocava, dos fatores que para ele contribuíam e, faziam de Tiago essa pessoa em duas vertentes. O Eu e o Eu sou o que pareço."

Excerto

Armando Sena

terça-feira, 24 de abril de 2012

Na Demanda do Ideal em Chaves



O realizar de um anseio, um dia tinha de ser. Agora em casa, tentamos dar mais um alento ao meu primeiro romance. "Na Demanda do Ideal" chega agora a Chaves e, na biblioteca municipal, onde antes já foram os bombeiros, ao lado do liceu Fernão de Magalhães, cenário do meu secundário, ao fundo de um dos maiores ícones flavienses, o Jardim das Freiras. Será no dia 11 de Maio e estão todos convidados.
Um agradecimento à Biblioteca Municipal de Chaves pelo empenho na realização do evento e, claro, à Lua de Marfim, que me tem acompanhado desde o início desta caminhada.

Armando Sena

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Fuga

 
"De uma prateleira para outra, pegando na garrafa, girando-a, lendo o rótulo com calma, assim Filipa se entretinha, à espera do voo que a levasse para Frankfurt e daí, com mais uma escala em Singapura, para Sidney. Sim, a Austrália era o seu destino.
Os rótulos das garrafas vendem esperanças, o vinho, pelo menos para quem dele sabe pouco, entra primeiro pelos olhos que pela boca.
Era este mundo que Filipa queria desvendar. Era este o seu novo Foco. Entrar pela vista para chegar ao coração. E, aí chegado, tornar-se uma referência.
Viajava para um novo continente, não como os degredados de antigamente. Pelo menos, não no sentido de estar a cumprir uma pena decretada por um qualquer magistrado. Mas não lhe era de todo indiferente o facto de estar a fugir de um emaranhado em que se tinha envolvido. Fugindo de tudo encontrar-se-ia a si própria. Esta era a sua esperança. Era este o motivo que a impulsionava e que sem hesitações a levou a aceitar de forma rápida e decidida o convite feito pela mãe.
Para trás deixava tudo. Todos os que tinha conhecido e com quem tinha convivido desde o nascimento. Para trás deixava nada."

Excerto do que há-de vir. 

Armando Sena


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Interrogação



Não, que dito assim é sempre incógnita
Escrito sempre soa a vil certeza.

Mais vale entre dentes sussurrado
Como se de um ai, um delírio se tratasse
E só por palavras se consumasse.

Traria nas asas do pecado
Toda a vontade que jorrasse
De quem mal ainda tinha iniciado
E, desejando não ter fracassado
Esperava, em vão, que se esgotasse
O rastilho do efeito almejado

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O Estratega




“Artur gostava daquele jeito decidido de Filipa. Apetecia-lhe uma coisa, investia nela. Sem grandes planificações, sem premeditações.
Pelo contrário, ele era o típico financeiro, o homem do planeamento. Tudo tinha que ser ponderado, pesado, avaliado. No fim, perdia-se todo o prazer do imediato, da descoberta, do imprevisto. Filipa era o seu contraponto.
Pensava nisto já a caminho de casa. Aí chegado, tomaria um banho, escolheria a roupa peça por peça, a cor das meias que combinariam com a camisa e por fim, poria o perfume que Filipa lhe tinha recomendado anteriormente.
Passou-lhe a angústia, parecia outro. O andar, era agora firme, decidido. Só ela o punha assim.
Passaria ainda pelo centro comercial para comprar uma prenda a Filipa e, depois sim, partiria. Seriam ainda uns longos e extenuantes quilómetros até ao paraíso.
O toque de uma mensagem no telemóvel despertou-lhe então os sentidos.”

Armando Sena