terça-feira, 13 de março de 2012

Cadência



..."Ao seu lado alguém, porque há sempre alguém que nos dá a mão, cedia-lhe as pontas dos dedos. Ele nem percebia que eram dedos finos e esbeltos, compondo uma mão também fina e extremamente elegante, de mulher. Dedos carinhosos de afeto e aconchego. E assim, de mão dada, partilhavam o caminho até ao recolhimento.
Continuava e nem percebia se a mulher que o acompanhava era sua companheira de desventura, se partilhava a mesma ala do hospital com ele ou se era apenas uma visita. Se era real ou algum anjo da guarda que alguém lhe tinha enviado.
Ao chegar à porta, após o toque da campainha e a chegada de uma enfermeira, muito bonita como quase todas elas, da abertura da porta fechada a sete chaves, teve a resposta.
Ela entrou com ele para dentro da sua ala. Era então companheira de desgraça. Desgraça, aventura, desventura, isolamento, reencontro, solidão, recolhimento, renascimento ou outro qualquer termo que não iria alterar nada ao estado atual de ambos.
E no corredor, espraiavam-se no cinzento de um cérebro amorfo, ténues recordações de outrora."
....

2 comentários:

Anónimo disse...

Depois dos extensos corredores, passam para o jardim.Deixam o frio cimento, e começam a ter contacto com esse pequeno mundo. Alguns alheios a tudo, apenas utilizam o banco e divagam.
Sim, porque o cérebro ainda está adormecido. Outros passam páginas sem olhar o livro. Enquanto que aquela, sem rumo, abraça o que mais amou no mundo: os livros. Alguém, a seu lado, comparte com ela a paixão....música. Tantas vidas sem norte, esperando um lindo amanhecer.

trepadeira disse...

Ou uma fantasia que,pela mão,nos leva até ao sonho.

Um abraço,
mário