segunda-feira, 5 de março de 2012

Início




Da janela do quarto, do lado direito da cabeceira, conseguia divisar o sol do início do dia. Um imponente sol de maio, sob um céu azul pontualmente salpicado por pequenas nuvens. Era este o quadro exposto na janela por onde entrava o mundo, que não conseguia ter vontade para apreciar.
O movimento das ruas, visível desde onde se encontrava, era o normal considerando uma quarta-feira de manhã. A vida lá fora continuava normalmente, as pessoas estavam, como sempre, alheadas das desgraças dos outros. Somos mais atentos à normalidade quando a nossa já acabou.
Entramos neste mundo quando outros cá estão, saímos deste mundo e outros cá ficam. Ninguém se apercebe que chegámos e tudo continua o seu normal curso quando partimos. Se nada mudou quando aparecemos, tudo permanecerá inalterado assim que partirmos. Triste conclusão a de um condenado, triste fado, pior sorte.

Excerto do que há-de vir. Capítulo I

3 comentários:

trepadeira disse...

E se nada fizermos,nada muda,mas também o que andariemos aqui a fazer?

Um abraço,
mário

Anónimo disse...

O final do texto recorda-me a paixão de cristo.Ele pediu, mas o Pai não quis.Identifico-me com essas palavras, mas quando não há vento tenho que remar.

Rita Carrapato disse...

Armando

Apetece-me apenas transcrever:

"Somos mais atentos à normalidade quando a nossa já acabou."

Um abraço