quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ensaio



Em gestos lentos, saboreados, sacou a rolha da garrafa. Serviu o vinho no copo até meio. Sem prova, não era necessário, o aroma libertado pelo néctar era suficiente, invadia-lhe as entranhas, subia-lhe à cabeça, aquecia-lhe a alma.
Bem, agora sim, era altura da imersão em água fria. Pousou o copo num dos cantos da banheira, entrou então ela, primeiro um pé, depois outro. Sentou-se, tremeu com o primeiro contacto da água fria na pele quente. Com as mãos em concha, cheias de água, levou-as à altura da cabeça e deixou que a água lhe escorresse pelo rosto.
Agora sim, começava a sentir-se melhor, pegou então no copo e virou-o contra a luz. Um vermelho rubi, uma cor poderosa, baixou o copo e sentiu um leve aroma frutado, não muito, que o vinho era encorpado e com algum estágio, a colheita de 2005 tinha sido excelente. Lentamente, com prazer, alheia a tudo, Margarida ingeriu o primeiro golo. Potente, penetrante, percorreu-lhe todas as veias, estimulou-lhe o corpo, libertou-a.

4 comentários:

Anónimo disse...

As suas palvras são como a nicotina. Fiquei viciada.

trepadeira disse...

A vida como o vinho.

Um abraço,
mário

Anónimo disse...

O néctar das palavras é suficiente
para embebedar qualquer alma.
A colheita de o que há-de de vir é embriagante, merece um cheers!

Rita Carrapato disse...

Armando

Em tempo lento e saboreado me (re)apoderei da personagem Margarida e do aroma do(a) vinho(a).

Beijinho